sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Olhar a morte pela janela...


Segundo dados o INE em 2008 morreram 690 pessoas nas estradas portuguesas por acidente de viação com menos de 65 anos. Quantos destes morreram injustamente? Quantos? Deve ser horrivel, não quero imaginar e temo sequer fazê-lo. Conduzo por gosto, adoro conduzir...mas a estrada pode tornar-se um ringue de sangue, morte, desespero e injustiça. Quantas pessoas conduzem seguramente, com vista a um destino repleto de alegrias, tristezas, o que seja, mas repleto de vida e a perdem num ápice? Quantas? Morrer injustamente na estrada é morrer na areia, é morrer sem explicação, é morrer sem causas e com muitas consequências, é morrer sem ter tempo de pensar na vida, e morrer sem haver despedidas, é morrer sem aviso, sem adeus, sem amor, sem sentimentos...é morrer vazio. Quando seguimos na nossa segurança, no nosso cantinho, na nosso lugar e de repente alguem nao pára num STOP, alguém nao cede uma passagem, alguem nao para num semáforo, alguem conduz alcooalizado, alguem conduz ao telemovel, alguem conduz a alta velocidade testando limites...e morremos por isso! Morremos porque alguem testa os limites...Quantos nem tempo têm para olhar a morte pela janela do carro? Quantos nao tem tempo de pensar nos pais, nos maridos, nas mulheres, NOS FILHOS! Quantos não tem tempo para pensar no que lhes esta a acontecer? Quantos morrem sem saber que morreram? Não quero imaginar a dor, a angústia, o medo, se é que ha tempo de ter esses sentimentos! O pior vem depois...quem espera por quem vem na estrada, o destino da viagem fatal, e a pessoa nao chega, liga-se e nao atendem, morreram sem saber e esperamos pela sua chegada ansiosamente mas eles nao vem.


Nunca me aconteceu nada parecido, espero que nunca aconteça. É a morte que mais temo, porque morre-se sem culpa, sem sentimentos, sem alegrias ou amarguras, morre-se apenas! Depois de um mero bate chapas num destes dias a minha mãe quase "me obrigou" a reflectir no assunto. Ela tem carta ha 20 anos e nunca teve uma acidente até ao dia em que uma senhora nao parou no STOP, há dias. Nao se magoou, nao teve culpa, nao estragou muito o carro mas treme de medo ainda hoje, e nao pára de pensar no que sente uma pessoa que está a ver a morte a aproximar-se numa estrada com um carro prestes a bater! E quando nem tempo para ver têm? A minha mãe chorou, chorou muito. Foi um bate chapas sim, nada de grave, sim...mas para ela foi testar uma possibilidade...nao quero imaginar sequer, mas achei por bem reflectir porque é uma estupidez morrer na estrada! É dos piores assassínios...é das piores mortes que deixa as piores vidas de quem cá fica.


Um beijinho!

2 comentários:

  1. Querida Tânia
    Arrepiei-me ao ler o teu texto. Essas palavras fizeram eco dentro de mim. Ao mesmo tempo que as lia pensava que seriam um óptimo spot para colocar nas estradas em letras garrafais. Talvez atingissem mais o alvo do que aquilo que se tem feito... E agora que vêm aí as férias de Natal, muitos adeus se sucederão. Infelizmente!
    Confesso que cada vez gosto menos de conduzir e um dos principais motivos é ter que estar atenta a todos os outros que rodam na estrada em simultâneo comigo. Quando tenho de fazer uma grande viagem chego a ficar ansiosa! E se for sózinha, de noite e com chuva só acresce o meu nervosismo.
    Isto acontece depois que tive um pesadelo aqui há uns tempos! Senti-o tão real que nem quero pensar muito nele, para não chamar essas imagens à minha memória. Não sou supersticiosa, mas daí para cá a sensação que ficou foi um tanto a de uma intuição... medonho mesmo!
    Já tive um grave acidente com o meu filho dentro do carro e embati mais violentamente porque me distraí a olhar, para ele, pelo retrovisor para verificar a sua segurança. Na altura o meu carro ficou bem danificado, mas felizmente ninguém se magoou. Enfim, são situações que nos marcam e que nos fazem pensar! Às vezes com a mania das pressas não pensamos no perigo que corremos nem que fazemos os outros correr.
    Bom texto minha querida. Sensibiliza o leitor...
    Pena mesmo as mensagens que se transmitem ao público não serem tão vivas... de morte e desespero dos que ficam e dos que vão.
    bjs cheios de amizade verdadeira
    CF

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  2. Sou apologista de falar sobre o que incomoda. De maneira sensivel, sensata, tentando nao ferir susceptibilidades. O que dizer de um jovem, 22 anos, embriagado, que pela manha MATA ao volante uma senhora e os seus dois netos? Pagará ele pelo crime cometido??? NAO!, será avaliado por uma junta de psiquiatras que tentarao provar a sua inimputabilidade. Pois é...podia ter sido azar? Podia, se nao houvesse alcool à mistura. Se nao houvesse excesso de alcool. Os desastres acontecem, mesmo quando temos o maximo de cuidado. Mas esses sao os menores. Aqueles que desgarram pela madrugada, sozinhos na estrada...e morrem. E nos ja sentimos isso subjectivamente. E aqueles que correm na estrada e tiram a vida a outros que so queriam chegar cedo a casa.
    Enfim, um painel de tristezas, sobre os quais muita gente ainda n reflectiu!!!
    minha querida tania um grande beijinhoooooo com muito carinho!

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