quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Um dia de transtorno vs Uma Vida Transtornada

"Um dia de transtorno

A coordenadora da Unidade de saúde Familiar de Serpa Pinto, no Porto, não tem pejo em dizer que compreende a greve dos enfermeiros.
Ana Castanheira revelou que dos habituais sete enfermeiros, apenas três estavam ao serviço, um deles na área de domicilio. "Não tenho dúvidas de que não terá feito greve para não prejudicar estas pessoas que, dependentes de cuidados no domicílio, iriam ficar sem eles por vários dias".
No geral, contudo, o transtorno, foi muito grande. Notou-se, sobretudo, nas consultas de equipa, ou seja, naquelas consultas onde o paciente tem que passar primeiro no enfermeiro. "É um exemplo disso a saúde infantil. A criança antes de ver o médico precisa de ir ao enfermeiro pesar-se, medir-se, etc. O mesmo se passa nas consultas da gravidez, onde a grávida precisa de ir ter com o enfermeiro para fazer o exame da urina, por exemplo. E o mesmo no rastreio oncológico ou nos doentes com diabetes", explicou Ana Castanheira.
O transtorno verificou-se nas inúmeras cadeiras vazias na sala de espera. Quem tinha consulta de saúde infantil teve que adiar, quem precisou de ter uma ferida suturada foi a uma urgência.
O mesmo cenário viveu-se no centro de Saúde de Oliveira do Douro, em Vila Nova de Gaia. No agrupamento a que este centro pertence, "47 enfermeiros fizeram greve, dos 67 que estavam escalados para trabalharem", revelou Isabel Chaves e Castro, directora executiva do Agrupamento de Centros de Saúde do Grande PortoVIII- Gaia. As cadeiras do Centro de Oliveira do Douro estavam, em grande número, vazias.
Feita uma visita ao Hospital de S. João, no Porto, conseguiu apurar-se que, só nas consultas externas, 28 dos 33 enfermeiros destacados fizeram greve. Nos blocos operatórios centrais não houve nenhuma sala em funcionamento e nas cirurgias de ambulatório apenas uma sala funcionou." JN, 28 de Janeiro de 2010


Eu, como futura enfermeira, e todos os enfermeiros deste país já temiam artigos como este. É incrivel o poder de noticias como esta na sociedade e nas pessoas que a ela têm conhecimento. Quando nos deparamos com uma greve de enfermagem, e nao tendo a comunicação social "do nosso lado", a tendência é ir procurar os "transtornos" dos utentes. É verdade, nao digo que não existam e temos imensa pena, nós que nos LICENCIÁMOS, para tê-los a eles como objecto do nosso trabalho, e que, nestas circunstâncias nao fazemos o melhor pelo utente. É verdade realmente. Mas vejamos...nós estudamos 4 anos de forma a cuidar cada vez mais e melhor dos nosso utentes, para ve los restituir-se das suas enfermidades e dos seus males e porque é que nós, que fazemos o nosso melhor por eles, nao podemos ser tratados como os outros? Não lutamos para ser mais que eles, lutamos pela igualdade de direitos face a igualdade de exigências. Hoje um enfermeiro dizia, na tv, uma frase muitissimo correcta "nao queremos ser nem mais nem menos, queremos ser iguais!" É a realidade...
Meus queridos utentes, nao queriamos afectar vos de todo, e agora que estou dentro de uma equipa, percebo a preocupação dos enfermeiros em mobilizarem se para que a vossa integridade fisica e psicologica nao seja afectada mas eu sei que é inevitável. Não vos tomo com invisibilidade, nem vos deixo de parte mas a realidade é que ninguém sabe nem quer saber o que é ser enfermeiro e só vos, que sois cuidados por nos, sabeis aquilo que lutamos pela vossa saude. Por isso sei que, apesar de incomodados pela nossa ausencia nestes dias, entendeis a nossa luta e so tenho pena que esse entendimento nao seja unanime em toda a sociedade, inclusive quem nos trata de forma tao desrespeitada!
E a comunicação social, ou parte dela, preocupa-se com os sentimentos dos que ficam sem cuidados nestes dias e nos "dias de transtorno", mas nao se preocupam conosco que ficamos sem orgulho e sem respeito, e com "a vida transtornada".
Meus querido utentes, sois vós a razão de tudo isto, é por nós e pela nossa carreira que lutamos mas é em prol de vocês que o fazemos!

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Oração do Enfermeiro

Senhor, fazei de mim um reflexo da vossa bondade
Que em cada enfermo veja um irmão,
E faça minha a sua dor.
Ajudai-me a suavizar as suas angústias e a incutir-lhe força e esperança, levando-o a confiar em Vós.
Dai-me uma vida digna, que inspire confiança, alegria e compreensão.
Que eu leve sempre, para onde quer que vá,
um pouco de felicidade e de paz.
Que eu realize todas as minhas tarefas
com abnegação e preserverança
Amén.
Oração escrita num quadro na sala de trabalho do meu local de estágio, coisa boa de se ler num dia complicado! Traduz aquilo que temos como base, aliando o saber científico à fé! E eu gosto desta aliança...

Beijinho

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Os meus domingos diferentes...



Aos domingos, não todos, faço algo diferente!

Quase ninguém sabe, não me gabo, não faço questão que mo façam, apenas faço questão de ver o sorriso, o bom dia, a felicidade de uma cara nova na cara dos "meus" utentes. A minha mãe começou por fazê-lo e eu invejava-a. Quando tirei a carta passei a fazê-lo eu quando ela não pode, e mesmo quando pode, cede-me o seu lugar porque sabe o prazer que isto me dá.

Uma das minhas tias-avós trabalha diariamente no apoio domiciliário do centro paroquial de assistência de pardilhó fazendo as suas higienes e distribuindo as suas refeições diárias por, aproximadamente, 20 utentes. Pessoas sozinhas, com familias ausentes, com familias despreocupadas, com familias preocupadas mas muitíssimo ocupadas, precisam de atenção, de ajuda no seu autocuidado, de alguém que prepare as refeições por si, uma vez que já não o podem fazer autonomamente. Por saber que é tao duro não conseguir tratar de nós próprios, pois temporariamente ja soube o que isso era, aquando de um internamento, é que ainda me dá mais gosto ajudar.
A cada 3 domingos é a vez da minha tia fazer o dia de domingo. Com muita pena minha, ao domingo não se fazem higienes, apenas distribuimos a alimentação e dois dedos de conversa com os nossos utentes. É bom servi-los...dizer lhes bom dia, vê-los a ver a missa na tv e ter de andar em bicos de pés para não os desconcentrar nas suas actividades religiosas, deixar a lancheira das refeições, recolher a do dia anterior e acenar-lhes num adeus.
Tenho imensas histórias caricatas que guardo para mim, para me consolar nas horas mais tristes e esboçar um sorriso...pessoas que têm um mundo aparte e nos estimulam a participar nele, vêm coisas que não vemos, mas que imaginamos ver para não os desiludir. Aproveitar as habilidades de outros, e pedir-lhes que nos façam aquilo que melhor sabem e gabá-los naquilo que fazem com muito geito e carinho...
Mesmo antes de tirar a carta e ser esta condutora da carrinha, de ajuda, de carinho e sorrisos, já acompanhava a minha mãe e a minha tia nessa sua actividade fantástica e que torna a vida de muitas pessoas mais agradáveis, mais ricas, mais alimentadas...mais felizes!

Adoro sentir-me útil...
Adoro dedicar-me aos outros...
Adoro sentir uma satisfação no meu próximo...
Adoro ser sensível...
Adoro ser tocável...

Adoro fazer os outros felizes...
E adoro ser feliz assim!
É ou não é uma forma fantástica de se ser feliz, fazendo os outros felizes? Claro que só pode ser!

Ah...relativamente à foto, ainda não tenho nenhuma tirada comigo, esta foi tirada para a apresentação do trabalho final de RVCC (novas oportunidades) da minha mãe. É a minha tia e a minha mãe, num dia em que se simulou uma saída, mas apenas porque nessa semana não ia haver...mas é assim que nos apresentamos...lindas hm? xD

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

A força de um olhar agradecido é o motor do meu coração...

Começou aquele que para mim é um ponto de viragem da minha vida. A profissão de enfermagem resume todas as competências que se desenvolvem no contexto em que me encontro neste momento. É a primeira vez que me deparo frontalmente com a doença, em que tenho de pensar nos outros e em mim também, em proteger os outros mas proteger me a mim tambem. Estou no incio e sinto me deslumbrada. Assumo um grande medo, um grande anseio pelo desconhecido mas um medo que me assolava e que me assustava era a comunicação não verbal, aquela que temos face a uma pessoa acamada, totalmente dependente, em que nós falamos com ela mas não obtemos resposta verbal, em que temos de interpretar apenas o corpo, o olhar, a posição das mãos, a força do toque, a textura da pele... Essa é uma vertente da comunicação que não tenho ainda bem desenvolvida. Assusta-me...

Mas hoje, hoje no meu segundo dia de estágio, é que percebi uma vez mais a minha essência, este meu gosto por aquilo que quero fazer ao longo da minha vida. Comecei o meu segundo dia de estágio com as habituais higienes. Fui chamada para fazer a mesma, à sala de isolamento, onde ja tinha estado ontem e ja tinha feito a mesma higiene à mesma pessoa. Apetrechei-me como o ambiente exige e fui com uma doce enfermeira e sempre disposta a ajudar para a sala em questão. Dirigo me ao senhor, acamado, totalmente dependente em todas as suas NHF's e disse lhe "Olá, entao como estamos hoje? Vamos tomar um banhinho?" e aquele sempre olhar fixo do dia anterior se manteve, aquele corpo emagrecido de 27 Kg nem estremeceu e a sua posição rigidamente fetal estava mais vincada que o dia anterior. Começámos a higiene e eu, naquele meu instinto que muitas vezes nem eu própria sei explicar, deslizei a minha mão, mesmo que protegida pelas luvas, naquela cabeça envelhecida, coberta de cabelos brancos. Aí, fiz uma rápida retrospectiva da minha vida, e do sentido do meu ser, porque aquele senhor de olhar fixo, deslizou a vista na minha direcção, soltou uma lágrima e desde aí, mesmo sem falar, estivemos sempre, ate ao final do procedimento, em clara comunicação. Não sei se lá voltarei, porque a nossa entrada naquela divisão está um pouco restrita e darei, com todo o gosto, o meu lugar às minhas colegas, mas aquele senhor fez hoje de mim a pessoa mais feliz do mundo. E é ao contentar me com este muito que todos consideram pouco, que me sinto íntegra, pura, e enfermeira! Sei que muitas que lêm o que escrevo entendem o que eu digo, e outras que não o entendem, pensam que é so bla bla bla mas cada vez que me lembro dos meus escassos dias neste serviço, emociono-me e sinto me tão feliz, tão paga pelo meu trabalho...com os olhares agradecidos das pessoas a quem ajudo a comer, a quem ajudo a vestir, a quem ajudo a falar apenas...e sei também o quanto o meu sorriso se tem tornado terapêutico!

E tudo isto que disse é tao pouco para o turbilhão de emoções, orgulhos, sentimentos que trago dentro de mim!

A cada dia que passo me sinto mais enfermeira...e é tão bom!

sábado, 9 de janeiro de 2010

Hoje amanheceu um dia colorido...

Quando um dia amanhece colorido muito raramente escurece. Quantas pessoas por ai desejam acordar numa cama quentinha? Com uma mensagem de bons dias, e um dia trabalhoso pela frente? Secalhar esta ultima parte não mas a inicial aposto que muitas. É que realmente a minha vida so se torna colorida quando tenho a minha agenda preenchida e principalmente com coisas gostosas pela frente, mesmo que preencham o dia de forma a chegar a casa suada, com os pés dormentes, pernas cansadas, olhos semicerrados, corpo ansiando por um banho, uma sopinha e um valezinho de lençóis até ao próximo dia...Dá.me gosto e prazer ter muitas coisas para fazer, ter de organizar o meu dia de forma a conseguir fazer tudo, e quando não o consiga fazer, pelo menos esboçar um exausto sorriso de satisfação. Adoro esforçar-me, esfolar-me, fazer 30 por uma linha, adoro estar preenchida. Simplesmente acho muita piada quando me esqueço de jantar ou almoçar, ou seja, quando o meu corpo entra em sintonia com a minha alma de forma a que as minhas necessidades básicas deixem de o ser e passam a ser necessidades secundariamente básicas. Engraçado isto? Pois eu também acho...Hoje foi um dia trabalhoso, não exaustivo, como por vezes tenho necessidade, mas trabalhoso. Com alguns momentos relaxantes pelo meio mas trabalhoso. Aliei o útil ao agradável e fui fazer as minhas entrevistas a pé...estava um dia lindo, frio mas lindo. Eu adoro dias lindos e frios, em que calço luvas, ponho cachecóis mas depois dou dois passinhos e fico com calor, mas aquele calor que se sente, é bom de sentir, mas não se pode tirar roupa senão congela-se. O dia correu bem...foi frio e caloroso...foi preenchido e trabalhoso...ainda não acabou mas já valeu a pena, por tudo o que fiz, mas principalmente pelos sorrisos que recebi...é tão bom!








Um sorriso, muito se diz, vale mais que mil palavras e enche-nos de afecto! =)

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

A felicidade de uma noite de inverno...

Cada vez me convenço mais que fui feita para os outros.

Há dias, aqueles muito gelados, em que temos a lareira acesa, a casa quentinha, mas algo mais forte que se levanta: o dever, a disponibilidade, o trabalho, a ajuda, a amizade e então veste-se um casaco grosso, põe-se um cachecol e calça-se umas luvas, prega-se o cartão de identificação e empunha-se a pasta. Olha-se uma última vez para a salamandra acesa, despedimo-nos da casa quentinha com um "até já" e sai-se para a rua.

Eu já sei que as pessoas são fantásticas mas ontem tive uma prova de quanto é gratificante cuidar, olhar, ouvir, escutar, tocar... O que descrevi acima foi o que me aconteceu ontem. Depois das 5h30, por uma questão de acessibilidade ao horário daquelas mulheres, que trabalham e que imagino, durante o caminho, como me vão receber. Admito que ontem, apesar de já pensar desde manhã que tinha de o fazer, era um dos dias em que o frio me rasgava a pele, em que me apetecia ficar ao calor da minha salamandra, mas tinha de ser e já me diz a minha avó "o que tem de ser tem muita força, mais força do que o apetece fazer". Saí de casa, apetrechada, aprontei me cheia de roupa, mas tendo sempre em atenção se causaria ou não desconfiança nas pessoas aquela minha vestimenta. Troquei de roupa bastantes vezes, queria acompanhar o meu sorriso de um aspecto que inspirasse confiança. Saí de casa, as primeiras moradas revelaram-se infrutíferas, não me atendiam mas, não sei se pelo meu optimismo e vontade, eu ansiava pela próxima casa. Até que me atendem, mas teimam em não querer participar, tento ser firme e explicar a importância de ser ela e não outra mulher, e aí marca me para mais tarde. Ok, siga viagem...A vizinha, mesmo do lado, também estava na minha lista, toquei e a senhora atendeu-me e diz "minha querida, entra, está tanto frio, anda pra lareira". É de sublinhar que, apesar de sermos quase vizinhas, nem ela me conhecia, nem eu a ela, e ela acolheu me de forma tão calorosa. Levou me até à sua sala e saiu da divisão acolhedora, quente e familiar. Quando entra novamente na sala, traz uma manta que me coloca nas costas e me diz "eu ate poderia desconfiar, mas esse teu sorriso não engana ninguém, só podes ser boa pessoa, vamos lá ao teu trabalhinho". Fiz o que o propósito da visita exigia, e tivemos uma óptima conversa. Tive boas surpresas, passamos a conhecer nos e ainda tive um convite para um chá, que delicadamente recusei.

Isto tudo para dizer que aquela senhora, aqueceu me por fora, mas muito mais por dentro, a vizinha que visitei depois, revelou se uma vez mais também uma óptima pessoa e as casas que visitei e nas quais me atenderam, parece que percebiam o que eu tinha sentido ao sair do calor da minha casa e queriam aquecer-me...o coração! E conseguiram...cheguei a casa mais feliz que uma criança depois de receber um doce. Tomei um banho que me repôs o calor e energia do dia, lembrando-me a cada pingo de água que me escorria pelo corpo, das palavras calorosas que tinham ouvido naquele pequeno espaço de tempo.

Já tinha tido experiências lindas com as pessoas, mas esta iniciativa, este trabalho que tanto gosto me tem dado está a superar tudo o que eu imaginava que podia receber das pessoas. E aí percebo que a melhor contrapartida que podemos receber quando cuidamos das pessoas, é o seu sorriso, o seu carinho, a sua atenção, aquele seu olhar que diz "obrigado" a cada pestanejar.

Como eu adoro aquilo que fui, sou e serei futuramente enquanto enfermeira.

E a quem me proporciona tudo isto...OBRIGADO!

sábado, 2 de janeiro de 2010

Em 2010 seremos Apaixonados...pela VIDA!

2009 já lá vai...com todas as coisas boas e más que aconteceram, passou e passou de uma forma confusamente triste ou feliz...lá está a pertinência do adjectivo! O ano foi bom, nasceram pessoas importantes, cresceram pessoas importantes, dei me conta da existência de pessoas importantes. Mas também perdi pessoas importantes, magoei pessoas importantes, magoaram me pessoas importantes. No final só posso dizer que o balanço é positivo, porque conheci, nasceram, cresceram e vivem em mim pessoas muito importantes. Ninguém substitui ninguém mas as pessoas que estão ao meu lado fazem me lembrar do orgulho que tenho em ser quem sou. 2010 espero que seja muitíssimo bom, avista-se uma grande mudança na minha vida e só espero que seja boa. Sei que nem tudo será bom, que estamos sempre a ser postos à prova mas, felizmente, tenho conseguido superar as dificuldades às quais sou posta à prova. Este ano podia ter acabado de forma muito triste, muito mesmo, mas não, contra as ciências mais exactas acabou de forma esperançada, feliz, e sob o reflexo lindo de um olhar azul, de uns cabelos cor de mel e um sorriso lindo que me faz trepar aos céus de felicidade, orgulho e amor. Que 2010 seja um reflexo de felicidade, amor, paz e alegria para todos aqueles que merecem e também para os que não merecem, para que estes sentimentos revolucionem a maldade dos corações e seja um ano de lindos corações apaixonados...pela vida!